sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Até quando esperar?

Em um post anterior falei sobre a Penn World Table 8.0 e comentei que uma das novidades mais interessantes foi oferecer dois conceitos para o PIB: um deflacionado pelos preços do que compramos (rgdpe)  e outro deflacionado pelos preços do que produzimos (rgdpo). O primeiro pode ser visto como uma medida de bem-estar o segundo como uma medida de nossa produção. A razão entre estes dois conceitos de PIB pode ser interpretada de duas formas:  pode ser vista como a razão entre os preços do que produzimos a e os preços do que compramos (note que esta razão não equivale aos termos de troca, mas está relacionada) e pode ser vista como a razão entre nosso bem-estar e nossa capacidade de produção. Na primeira interpretação um aumento desta razão significa que o preço das coisas que produzimos está aumentando mais do que o preço das coisas que compramos, na segunda interpretação um aumento significa que nosso bem-estar está aumentando mais do que nossa produção. Hoje vou usar a primeira interpretação para comentar a economia brasileira, no próximo post tratarei da segunda interpretação.

Podemos ficar mais ricos de duas maneiras: o preço do que produzimos aumenta ou, ao mesmo preço, aumentamos nossa produção. Considerem o meu caso, sou professor de economia. Posso ficar mais rico se conseguir cobrar mais por minhas aulas de economia ou posso ficar mais rico se der mais aulas de economia ao preço atual. Embora em ambos os casos eu esteja mais rico existe uma diferença importante entre os dois casos: no primeiro caso a riqueza é devida a fatores que não controlo, do mesmo modo que a aula de economia ficou mais cara, a aula de economia pode ficar mais barata. Preços são circunstanciais, não seguem padrões determinados. Um preço que aumenta hoje pode muito bem cair no futuro próximo a depender das condições do mercado. O gráfico abaixo ilustra a razão entre os preços do que produzimos no Brasil e os preços do que compramos.



Como vocês podem ver no início da década de 1970 o preço do que produzimos caiu em relação ao preço do que compramos, foi o Choque do Petróleo. Como ficamos mais pobres devíamos ter ajustado nossos gastos, não fizemos e pagamos o preço na década de 1980. Mas não é deste período que quero falar aqui, quero falar do início do século XXI. Notem que no início deste século o preço do que produzimos começou a crescer bem mais do que o preço do que compramos. Este é um dos fatores que explicam o crescimento recente do Brasil. Como é muito difícil prever o quanto este fenômeno vai durar a prudência diria que devíamos ter aproveitado este período de vacas gordas para nos preparar para o futuro. Devíamos ter feito às reformas necessárias para continuar crescendo quando esta razão se invertesse. Uma vez realizadas as reformas poderíamos iniciar um processo de enriquecimento por meio de aumento da produção induzida por aumento da produtividade. Desta forma nosso crescimento não mais dependeria de preços difíceis de prever. O gráfico abaixo mostra a mesma razão de preços para Coréia.




Reparem que o comportamento dos preços no início do século XXI foi cruel com a Coréia, no entanto neste período a Coréia cresceu mais do que o Brasil. Qual a razão? O crescimento da Coréia está relacionado a ganhos de produtividade, não depende apenas de preços. Alguns apressados podem entender deste gráfico que o caminho é incentivar o mercado interno por meio de subsídios à indústria local. Não é, fizemos isto por mais de trinta anos no pós-guerra e não deu certo. Não há um só motivo para tentar de novo. A saída passa por educação e um ambiente favorável aos negócios. É um caminho longo e penoso, eu sei, mas se o tivéssemos seguido no pós-guerra, como fez a Coréia, hoje não dependeríamos de preços. Se não tivéssemos desviado deste caminho em 2006 hoje estaríamos bem melhor. Já perdemos muito tempo buscando saídas mágicas e fugindo do problema, quanto tempo mais ainda vamos perder? Até quando esperar?

2 comentários:

  1. Roberto,

    Um país interessante é Chile. Tem hoje o maior PIB per capita da América Latina e indicadores sociais bem melhores que os nossos, apesar de não ter adotado políticas sociais significativas. Isso sem falar que vai crise, vem crise e o Chile mantém sua trajetória de crescimento sustentado, salvo engano em torno de 5%. Qual o segredo deles? Liberalismo? ok! Não seria então um modelo para países exportadores de commodities? Simplesmente importar (sem barreiras) tecnologia e produtos manufaturados de qualidade, elevando a produtividade do setor de serviços. Todo mundo fica feliz, sem precisar da indústria. O que eu quero dizer é que (alinhado com seu argumento de um post anterior) é possível ser feliz sem a indústria. Coreia é um referencial muito elevado para nosso atrasado país. Melhor o Chile.

    Vou lançar o slogan : Indústria zero! Será que pega?

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  2. Roberto,
    Um país interessante é Chile. Tem hoje o maior PIB per capita da América Latina e indicadores sociais bem melhores que os nossos, apesar de não ter adotado políticas sociais significativas. Isso sem falar que vai crise, vem crise e o Chile mantém sua trajetória de crescimento sustentado, salvo engano em torno de 5%. Qual o segredo deles? Liberalismo? ok! Não seria então um modelo para países exportadores de commodities? Simplesmente importar (sem barreiras) tecnologia e produtos manufaturados de qualidade, elevando a produtividade do setor de serviços. Todo mundo fica feliz, sem precisar da indústria. O que eu quero dizer é que (alinhado com seu argumento de um post anterior) é possível ser feliz sem a indústria. Coreia serve para fazer contraponto com o Brasil, mas é um referencial muito elevado para nosso atrasado país. Melhor o Chile.
    Claro, teríamos o problema de financiar as importações. Bom, mas Chile tem conseguido. Como eu não sei. Será que só com câmbio flutuante?

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