quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

De Caracas a Kiev com escala em Guernica

Tenho falado muito sobre a Venezuela e pouco sobre a Ucrânia, não é por acaso. Gosto de ler sobre cultura, política e história da América Latina além de acompanhar as economias da região como parte de minha agenda de pesquisa. Isto seria motivo sufiente para que eu me sinta mais confortável falando sobre a Venezuela do que sobre a Ucrânia. Mas a coisa é mais complicada. O que está acontecendo na Venezuela não é nada novo. Chávez foi mais um caudilho populista que tiranizou um povo de nuestra América, mais um entre muitos "ridículos tiranos" que assolam a América Católica. Maduro é apenas o sucessor do Chavismo, um tirano que nem sequer tem o carisma dos líderes populistas. O povo da Venezuela vai sofrer, em algum tempo vai se livrar do bolivarianismo e depois vai saudar outro tirano, se der sorte menos brutal. É o ciclo interminável dos países latino americanos que abrigam estirpes condenadas não a cem, mas a mil anos de solidão. Brasil, Argentina, Colômbia, México, Venezuela, Chile e outros seguindo sempre a mesma história já tantas vezes lida.
Na Europa é diferente, não que o que está acontecendo na Ucrânia seja algo novo. Desde sempre a Ucrânia esteve na linha de fogo entre a Rússia e as potências dominantes da Europa. O leste europeu tem tanto potencial explosivo quanto o Oriente Médio. São muitas etnias, culturas e nações para poucos estados e territórios. Seria tolice pensar que a Rússia se acomodaria em uma posição subordinada depois do naufrágio da desastrosa experiência bolchevique, cedo ou tarde a grande Rússia daria sinais de vida. Infelizmente o problema não para por aí, a Europa ainda não conviveu cinquenta anos em paz com uma Alemanha unificada e forte. A própria unificação da Alemanha se deu no rastro da Guerra Franco-Prussiana em 1870-71, na sequência vieram as duas guerras mundiais e separação da Alemanha, que só voltou a se unificar na década de 1990. Como vai ser a convivência entre a Grande Alemanha e a Grande Rússia? Mais a oeste temos a Espanha e suas eternas tensões e ameaças separatistas. Bobagens? Nenhuma relação com Alemanha e Rússia? Cada um acredita no que quer, apenas lembro aos amigos que a Guerra Civil Espanhola terminou em 1939, coincidência?
Não seriam então os eventos na Ucrânia apenas a mesma história tantas vezes lida, só que na Europa. Não sei dizer, daí minha timidez em escrever a este respeito. O problema é que a Europa não está condenada à solidão, muito pelo contrário, um drama europeu é um drama mundial. Está além da minha capacidade avaliar se o que ocorre na Ucrânia é algo localizado, se é parte de um novo arranjo do leste europeu necessário, e inevitável, para acomodar a Rússia ou se é parte de uma cadeia de eventos que pode levar a um novo grande conflito na Europa. Sem possibilidades de entender só me resta rezar e torcer para que a União Européia consiga acomodar os conflitos latentes na Europa. Sim, porque muito mais que um desafio econômico, a União Européia é uma esperança geopolítica.

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