quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pelo Retrovisor

Um dos pontos que me chamou atenção na entrevista da presidente Dilma foi quando ela sugeriu que o entrevistador estava olhando pelo retrovisor e devia olhar para frente. Conheço a lógica, quando ocorre uma mudança na política econômica o passado não serve mais de referência e é preciso olhar para frente, grosso modo este é o argumento de Robert Lucas na crítica que fez a economia keynesiana dominante até a década de 1970. Ocorre que a mudança de política implementada por Dilma ocorreu em 2011, desta forma é sim possível e desejável olhar pelo retrovisor para avaliar os resultados da mudança de política. A verdade é que é os resultados foram muito ruins, talvez seja exatamente por isto que Dilma não queria que olhemos no retrovisor. A verdade é que Dilma termina seu primeiro mandato com o país crescendo menos e com mais inflação do que quando recebeu o governo. A verdade é que o governo que anunciou que seria lembrado como governo do PIBão arrisca terminar como o governo que viu as menores taxas de crescimento da história recente. A verdade é que o governo que anunciou que iria estimular a indústria e aumentar a taxa de investimento viu a participação da indústria cair e também viu a taxa de investimento cair. A verdade é que hoje a taxa de desemprego se matem baixa mais por pessoas saindo da força de trabalho do que por criação de novas vagas de emprego. A verdade é que os programa sociais dos quais a presidente se orgulha foram criados no governo Lula, alguém lembra do Brasil Carinhoso? Não é por acaso que presidente não quer que olhemos no retrovisor.
Se olharmos no retrovisor vamos ver que a Controladoria Geral da União criada por Lula em 2003 foi pouco mais do que uma mudança de nome da Corregedoria Geral da União criada por FHC em 2001. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que o tripé macroeconômico que Dilma defenestrou e substituiu pela tal Nova Matriz Macroeconômica foi capaz de manter a inflação sobre controle em um período onde vimos crescimento e distribuição de renda. Se olharmos no retrovisor vamos ver que hoje para rolar a dívida pública pagamos uma proporção do PIB maior do que pagávamos quando ela recebeu o governo. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que a crise internacional que Dilma responsabiliza pelo mal desempenho da economia em seu governo foi dada como superada pelo governo de Lula. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que o ministro Mantega em 2009 pedia um câmbio de R$ 2,60 e não vamos ter como explicar que hoje o BC está no mercado para segurar o câmbio em torno de R$ 2,20. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver o ministro Mantega chamando de piadista um analista do Credit Swiss que previu que a economia cresceria 1,5% em 2012 quando de fato a economia cresceu 1% e o ministro afirmava que cresceria muito mais, daí podemos nos questionar sobre se os analistas econômicos são mesmo pessimistas. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que intervenção no setor elétrico feita por Dilma foi desastrosa sob qualquer aspecto. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que as promessas da candidata Dilma em 2010 não foram cumpridas pela presidente Dilma em 2014: Belo Monte não foi construída, o trem bala não foi construído, a transposição do São Francisco não foi concluída, a transnordestina não foi concluída, a refinaria de Abreu Lima não foi concluída, na realidade seria melhor perguntar o que foi concluído. Se olharmos no retrovisor vamos que realmente a inflação em 2002 era maior que a de hoje, mas também veremos que alguns anos antes a inflação estava próxima a 1.000% ao ano...
Enfim, tem muita coisa que podemos ver olhando ver se olharmos pelo retrovisor, talvez por isso Dilma nos queira olhando para frente e acreditando cegamente no que ela diz estar vendo no retrovisor. Sim, porque Dilma não se roga de olhar no retrovisor para fazer sua campanha, é verdade que ela tem por hábito misturar o governo dela com o do antecessor dela, mas ela não para de falar sobre o que está vendo no retrovisor. Além de não querer que olhemos no retrovisor Dilma não quer que olhemos para o lado, foi determinado que nossos vizinhos não são referências para o que acontece por aqui, faz sentido, se olharmos para o lado vamos ver que estão nos ultrapassando. O problema é que do modo que vamos em breve estaremos sendo vistos pelo retrovisor.

Um comentário:

  1. Prezado Prof. Roberto Ellery: os seus comentários e reflexões confirmam a relevância dos governantes de olharem, sempre que necessário, pelo retrovisor, para avaliar a evolução da economia e da gestão pública. Infelizmente para a população, os erros graves que foram cometidos pelo governo DR, com a mudança de política econômica (a partir de 2011), produziram resultados devastadores, que irão repercutir negativamente na economia nos próximos anos. Em síntese, o governo Dilma fracassou por incompetência, autoritarismo e excesso de arrogância. O que mais me preocupa, como cidadão e contribuinte, é que a mandatária - candidata, além de se recusar a olhar no retrovisor da história, também se nega, ao insistir nos erros cometidos no passado, de olhar para a frente. Abraços, Prof. José Matias-Pereira

    ResponderExcluir