segunda-feira, 20 de abril de 2015

Não é a primeira vez que ouço falar no fim de Lula ou do PT... não creio que será a última.

A primeira vez que ouvi falar do fim do PT foi nas eleições de 1989. O argumento era que no segundo turno entre Brizola e Collor parte do PT ia optar por apoiar Brizola e outra parte ia querer ficar neutra o que causaria um racha fatal no PT. O tal segundo turno entre Brizola e Collor nunca aconteceu, Lula saiu das eleições como grande líder da esquerda e a eleição que acabaria com o PT colocou o partido definitivamente no cenário política nacional.

A segunda vez não foi exatamente o fim do PT, mas o fim de Lula. Após o impeachment de Collor havia o sentimento que a eleição de Lula em 1994 era inevitável. Porém no caminho apareceu o Plano Real, Lula cometeu o erro grave de falar contra o plano. A vitória certa se transformou em uma humilhante derrota para FHC ainda no primeiro turno. Vozes dizendo que a carreira política de Lula estava encerrada começaram a ser ouvidas. Com a derrota em 1998 novamente em primeiro turno, a terceira derrota seguida de Lula, mesmo no PT as vozes que decretavam o fim político de Lula ganharam força. Foi dessa a época o debate de primárias no PT e, salvo engano, foi por essa época que Suplicy ousou colocar o próprio nome como candidato presidencial do PT. Estavam errados, Lula foi eleito presidente em 2002.

A terceira vez foi no mensalão. Foi dado como certo que o escândalo enterraria Lula e o PT. Políticos da oposição profetizaram que Lula ia sangrar até as eleições de 2006 e então seria facilmente derrotado. Por conta de tal profecia a oposição entendeu que não devia pressionar pelo impeachment de Lula. Mais uma vez o fim de Lula e do PT não aconteceu, pelo contrário, Lula foi reeleito em 2006 no que talvez tenha sido a vitória presidencial mais fácil que o PT já obteve. Não falta quem acredite, talvez com razão, que não fosse pelo escândalo dos "aloprados" Lula teria ganho no primeiro turno.

A quarta não se chegou a falar de fim de Lula, talvez de uma morte natural do PT. A tese é que o PT não soube se renovar e construir novas lideranças para seguir no poder após o término do segundo mandato de Lula. Que tal tese tenha ganho força após a derrota de Marta Suplicy para Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo é algo que nunca entendi bem, mas a tese existiu. Alguns chegaram a especular que em desespero Lula daria o "golpe do terceiro mandato". Mais uma vez Lula e o PT desmentiram a profecia, Lula encontrou o sucessor, no caso a sucessora, e, de quebra, ainda encontrou um nome jovem para vencer as eleições de 2012 para prefeitura de São Paulo.

Agora é a quinta vez que ouço falar do fim do PT. Está de volta a tese do deixar sangrar até as eleições, também está de volta a tese irmã de que oposição deve administrar a crise até as eleições sem mesmo tentar usar mecanismos legais para tirar o PT do planalto prematuramente. Pode ser que estejam certos, os que defendem a tese sabem infinitamente mais do que o que sei de política, tanto em termos teóricos quanto práticos. Mas sou gato escaldado e tenho medo d'água, creio que não se arriscar agora pode ser o caminho para um novo governo petista em 2018.

A crise será brutal esse ano e seguirá dura em 2016. Porém em 2017 a população estará anestesiada, não creio que o crescimento voltará aos níveis anteriores ao da crise, mas a inflação pode estar controlada. Basta que tenhamos um crescimento de 1,5% a 2% e inflação próxima 5% que haverá uma sensação de recuperação da economia e Lula será um nome viável para a presidência em 2018. Não me compreendam mal, não quero a volta de Lula, pelo contrário, costumo brincar que sou o único da minha geração que votou em Collor em 1989, nunca votei em Lula e pretendo continuar sem votar. Por isso estou preocupado, subestimar o adversário é o caminho para derrota. O que tenho visto é que toda vez que comemoram o fim do PT o partido ressurge maior e mais forte, não sei por qual razão acreditar que dessa vez será diferente.


2 comentários:

  1. Boa tarde,

    Eu também acho bem precipitada essa tese de que o PT está no fim. É o único partido que tem militância organizada (o PSDB nunca teve), tem força na mídia, entre os acadêmicos, artistas e é o partido que sabe melhor entender a população.

    Vamos ser sinceros: o Brasil é um país cheio de ignorantes (muitos diplomados) e sem memória alguma. E o PT sabe muito bem disso e é com base nisso que eles conseguem ter sucesso.

    Eles (PT) estão querendo ganhar tempo, apostando que a crise vai passar, que a crise será mais amena a partir de 2017, em tempo para 2018. E é bem capaz que estejam certos. O seu último paragrafo resume bem o meu pensamento.

    Aliás, mesmo em caso de impeachment ou renúncia da Dilma, eu não descartaria o PT de forma alguma. Nesse caso, poderão se fazer de vítima (coisa que sabem fazer muito bem) e culpar a "oposição golpista" pelos fracos resultados econômicos.

    Para ser sincero, acho que o Brasil se meteu em uma grande enrascada. Não vejo nenhuma saída decente a curto/médio prazo.

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  2. Boa noite Professor, acompanho o seu Blog a algum tempo e gostaria de fazer umas perguntas especificas sobre alguns assuntos acadêmicos, já que procurei no site da instituição e não achei muita coisa, gostaria de saber mais sobre o mestrado da UNB, queria saber especificamente sobre a grade de macroeconomia, se os cursos são ortodoxos ou heterodoxos, queria saber se é abordado tópicos sobre as fronteiras de pesquisas no campo de macro. Desculpe o inconveniente.

    Att

    Léo

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